Entrevista ao designer do logo da Apple, Rob Janoff

Entrevista traduzida a partir do site Creativebits, ( a entrevista foi conduzida antes da morte do Steve Jobs)


«O logótipo da Apple é um dos ícones mais conhecidos no mundo, dando identidade a todos os seu produtos, desde os seus famosos objectos, ipods, iphones, ipads, etc…mas também a toda a sua imagem de comunicação como é exemplo o site da apple. Os fãs da Apple não só o poêm nos seus veículos para mostrar lealdade mas também vão ao extremo de o tatuar na própria pele, um nível de dedicação que poucas marcas conseguiram ter. O logo é admirado pela sua simplicidade e pelos muitos significados que as pessoas lhe foram anexando. É intemporal. Durante 30 anos continuou imutável e talvez dure mais 30 antes que se mude drasticamente.
Quando Jean Louis Gassée (executivo na Apple de 1981 a 1990) foi questionado acerca do logo da Apple ele respondeu:
Um dos mistérios mais profundos para mim é o nosso logo, o simbolo da luxúria e conhecimento, trincado, todo revestido com cores do arco-íris pela ordem errada. Não se podia pedir um logo mais apropriado: luxúria, conhecimento, esperança e anarquia.

Há muitas teorias acerca deste logótipo e muitas são apenas isso. Descubram a verdade, leiam a entrevista com o Rob Janoff, o designer do logo original da Apple, que nos vai dizer tudo acerca do seu design.

Quando é que desenhaste o logótipo original da Apple com as riscas coloridas?
No início de 1977. A agência tinha  a Apple como cliente desde Janeiro. O logo foi introduzido com um produto novo o Apple II em Abril desse ano.

Estavas a trabalhar para uma agência na altura?
Sim, trabalhava numa agência de publicidade e de relações públicas chamada Regis McKenna e eu era um dos directores de arte.

Conheceste o Steve Jobs?

Claro. A primeira vez deve ter sido no início desse ano. Foi antes dele estar a começar a sua empresa. Era o Steve Jobs, Steve Wozniak e o Mike Markkula. Ele era o mais velho que apoiou esses jovens empreendedores. Penso que o Mike Markulla foi a razão de termos ficado com a Apple como cliente. Ele era amigo do meu patrão o Regis McKenna.

Tinham algum brief deles?
Na verdade não houve. É engraçado que a única direcção que recebemos do Steve Jobs foi: «não façam um logo “giro”». Houve briefs em trabalhos seguintes. Primeiro havia o logo, depois um anúncio introdutório e uma brochura comercial para o produto novo. Mas era tudo muito descontraído na altura. Havia um logótipo predecessor ao meu. Um logo desenhado pelo Ron Wayne que tinha sido um sócio de curta duração dos Steves. Mais tarde ele recebeu um subsídio porque estava um pouco preocupado acerca das obrigações financeiras que poderia ter. Ele tinha uma jovem família e os outros não. O Ron fez um desenho em tinta do Sir Isaac Newton sentado debaixo duma macieira com umas fitas em torno do desenho. Eu percebi que aquele desenho não funcionaria numa perspectiva séria de mercado. Eles precisavam de um logótipo novo.

Quantas versões fizeste para a apresentação?
Apresentamos duas versões, uma sem a trincadela para o caso dele achar “giro” demais. Felizmente ele escolheu a que tinha mais personalidade com a trincadela. Francamente era um trabalho simples e falharíamos se não fizessemos um tipo qualquer de maça. Quando lhe apresentei o trabalho mostrei-lhe algumas variações, com riscas, cor sólida e efeito metálico, todas com a mesma forma.

Então mesmo na altura já tiveste a perspicácia de fazer uma versão sólida e uma metálica?
Sim, de certa forma estava obrigado. Quando se projecta um logo com muitas cores temos que pensar que vai haver locais onde temos que ter alternativas cromáticas. As riscas não funcionavam em escala de cinzas.

As cores representam a cultura Hippie, que estava na moda na altura?
Parcialmente foi uma grande influência, o Steve e eu vinhamos desse contexto, mas a razão mais sólida era que a Apple II era o primeiro computador pessoal que conseguia reproduzir imagens num monitor a cores. Por essa razão colocamos as riscas coloridas. Também era uma tentativa de fazer com que o logo fosse acessível a toda gente especialmente os mais jovens, o Steve queria colocar estes computadores nas escolas.

Na altura maioria dos logos eram só numa cor ou duas. Alguém lutou contra a tua ideia das cores?
O Steve gostou da ideia porque ele gostava de coisas “fora da caixa”. Hoje em dia não é assim tão revolucionário mas na altura era. Recebi bastante oposição de um dos meus superiores na agência, ele estava de certa forma a sabotar a minha solução na reunião de apresentação do projecto. Fez um comentário onde disse que uma nova empresa com este tipo de logo ficaria na penúria apenas com a impressão do estacionário. Foi este tipo de atitude que enfrentei na altura. O Steve gostou logo à partida, ele é um tipo bastante perspicaz e sabemos hoje que gostava bastante da originalidade também. Na altura um computador numa casa era uma ideia revlucionária visto que maior parte destas máquinas estavam em grandes empresas que eram paradigmas da tecnologia. Maior parte dos computadores pessoais que estavam a sair nessa altura tinham nomes muito tecnológicos, TRS-80 e coisas deste tipo. O nome Apple era bom porque era simples e afastado desse mundo tech, as cores demarcavam a empresa ainda mais.



O que é que a trincadela na maçã representa? É uma referência ao termo Byte (homófona de Bite (trincadela) em inglês)? Um a referência ao Adão e Eva e o fruto proibido? A fruta é uma referência à teoria da gravidade por Newton quando a maça lhe caiu na cabeça?

São teorias bastante interessantes mas temo que nenhuma destas razões teve alguma coisa a ver com a solução. Dum ponto de vista de designer e talvez já tenham experenciado isto, um grande fenómeno é ter um logo por quaisquer razões que o tenhas desenhado descobrir mais tarde porque é que tomaste certas opções. São todas treta, é um mito urbano, alguém acha que deve ser isso e começam a contar que é isso.

É possível que tenhas sido influenciado subconscientemente por estas histórias?
Bem, provavelmente sou a pessoa menos religiosa de sempre por isso Adão e Eva não tiveram nada a ver com isso. A trincadela do conhecimento soa muito bem mas também não foi isso. Há outras grandes teorias sobre isto. Alan Turing o suposto pai da ciência de computação que cometeu suicídio nos anos 50 era britânico e foi acusado de ser homossexual, e de facto era. Ele foi sentenciado à cadeia e cometeu suicídio para evitar tudo isso. Eu já ouvi dizer que o logo multicolorido é uma homenagem a ele por causa da bandeira gay. Isso foi uma teoria acreditada durante muito tempo. Outra parte muito apelativa era que ele tinha cometido suicídio com uma maçã com cianeto e que a história de criança favorita dele era a Branca de Neve quando comeu a maçã envenenada e ficou em coma à espera do beijo do príncipe encantado. Toda gente fica desapontada com a verdadeira razão. Na verdade desenhei a trincadela para dar escala e percebermos que era uma maça e não uma cereja! Também era algo icónico dar uma trincadela numa maçã. Algo que toda gente pode experimentar, transversal a todas as culturas, se alguém tem uma maçã é normal que a trinque. Foi depois de a ter desenhado que um dos meus directores me disse: sabes há um termo no mundo da computação chamado Byte, eu respondi, tás a brincar!? Era perfeito mas apenas uma coincidência, na altura não percebia nada de computadores ou dos termos ligados a eles.

Obviamente que não desenhaste o logo num computador!
Na verdade e isto é uma revelação para muitos jovens designers, recebo muitos e-mails acerca do logo e perguntam-me: desenhaste-o num computador? E claro que na altura os computadores não conseguiriam fazê-lo, foi passados anos quando o Mac foi desenhado, desenvolvido e refinado que comecei a desenhar via computador. Na altura era tudo feito no papel com lápis, cola, papel cortado, canetas e toda essa artilharia.


Como te sentes por ver o teu logo por todo lado?

É uma experiência deveras única, ainda  me sinto feliz quando o vejo inesperadamente. Estás a ver um filme ou a tv e vês um personagem carismático com um computador com o logo, como a Meryl Streep em Devils wears Prada. Eu já viajei bastante e quando o logo ainda era recente com as tiras coloridas vi-o num outdoor na China algures. Não conseguia ler os caracteres chineses, mas algo que tinha saído da minha cabeça estava ali para todos verem e interpretarem. É uma coisa bastante pessoal, é como ter um filho e estás muito orgulhoso dele.

Gostas das mudanças que a Apple fez ao teu design inicial ao longo dos anos?
Gosto. As tiras serviram o seu propósito e estavam datadas. Eu penso que é bastante importante para uma marca como a Apple se manter na vanguarda e o Steve Jobs é obviamente muito consciente disso e tem designers fabulosos a trabalhar com ele. Sinto-me bem por ainda ser a mesma silhueta apesar de já ter tido montes de mudanças. A forma da maça mudou ligeiramente do design original. A firma de design Landor&Associates fez as mudanças. Eles deram mais brilho às cores, fizeram as formas mais simétricas e geométricas. Quando o desenhei foi basicamente à mão. Muitas vezes penso para mim mesmo porque é que não o fiz eu e chego à conclusão que não era uma coisa fácil na altura. Penso que fizeram um excelente trabalho e vai ser fascinante ver o que a próxima intervenção fará ao logo.


Que outros projectos tens para te orgulhar?

As pessoas acham que continuei a trabalhar em design puro e fiz um montes de outros logos. Fiz alguns logos mas a minha carreira rumou para a publicidade impressa e em televisão. No que diz respeito a logótipos não fiz nada de referência nem que se aproxime da qualidade do logo da Apple. É um problema quando fazes algo que toda gente conhece tão cedo na carreira, é sempre a descer a partir daí. Eu estou orgulhoso de todos os projectos nos quais estive envolvido. Fazer um anúncio de TV que é uma coisa que demora um pouco a interiorizar. Na publicidade trabalha-se com imagens juntamente com as palavras , trabalhas com mais gente. Há mais hipóteses de chegar a um imaginário de duplicidade tem a ver com coloquialismos e tudo isso. Tenho muito porque me orgulhar depois da Apple.

Usas Macs actualmente? Ainda estás no activo?
Gostava muito de me reformar, mas nesta economia não dá mesmo. Eu uso um Mac para trabalhar, usei sempre Macs toda a minha carreira. Não faço a mínima ideia como se usa um PC. Fui leal à marca sempre ainda que os produtos sejam um pouco mais caros. Nem sequer penso mudar, para trabalho gráfico a Apple é superior à Microsoft.

Podes-nos dizer um logo que gostes muito e que não tenha sido desenhado por ti?
Há bastantes, Eu adoro outros designs clássicos. O logo da Volkswagen porque é bastante claro e já existe há tanto tempo. Estou a tentar pensar noutros que incorporem o policromatismo como o  logo da NBC. Eu gosto de logos com uma relação entre o espaço positivo e negativo, onde alguma coisa é revelada.

Gostas do logo da FedEx?
Sim é um logo que aprecio bastante. É muito simples e se o estudares percebes o elemento dinâmico da seta. É este tipo de logos que me dizem algo.

Podes dizer-nos o que é preciso ter em conta quando se desenha um logo?

A coisa principal é mantê-lo simples, porque os designers especialmente os mais inexperientes tendem a sobredesenhar e a colocar coisas a  mais nos seus designs. Penso que quem tenta trabalhar demais um logo, dar-lhe significado a mais acaba por ter algo complexo em demasia. Os logos têm que ser interpretados desde um tamanho muito grande até um tamanho muito pequeno e isso é um trabalho difícil. Eu penso que a legibilidade é a chave, nós desenhamos para um público que não tem a mesma percepção que nós e não se importa tanto quanto nós a não ser que o logo lhes capte a atenção imediatamente. Capturar a imaginação do observador com alguma coisa que lhe é revelada é também muito importante. Tem que se fazer os possíveis para capturar a personalidade da marca.

Uma grande percentagens dos designers activos nunca receberam formação oficial. Apesar disso muitos deles fazem trabalhos bons, pensas que a formação é fulcral?
Bem. eu não acho que seja fulcral, até porque aprendi muito mais sobre design depois de começar a trabalhar não na escola. Penso que alguém que é muito bom designer tem um talento inato para ver de uma certa forma. Eu sei que eu tenho isso, eu tendo a ser uma pessoa muito visual e pouco verbal, acho que isso é uma qualidade muito importante. Infelizmente hoje em dia toda gente tem todas as ferramentas ao seu dispôr quer saiba o que está a fazer ou não, toda gente acha que é muito talentosa apenas porque sabe uns truques do Photoshop. Concluindo, não, náo é preciso formação oficial é preciso é ganhar experiência trabalhando.



Questão final, o que tens a dizer aos leitores mais jovens, qual deve ser o seu foco para se tornarem bons designers?

Isto é uma coisa que costumo dizer aos meus miúdos: Eu faria isto mesmo que não fosse pago, porque eu gosto de o fazer, hoje em dia muita gente quer trabalhar para as grandes agências só porque têm as ferramentas para fazê-lo. É cada vez mais difícil obter trabalho e há muita gente a trabalhar de borla porque acham que vão arranjar um lugar numa empresa dessa forma porque há tanta competição.»

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2 comentários em “Entrevista ao designer do logo da Apple, Rob Janoff

  1. A entrevista, e realmente fantastica.
    Foi muito, bom saber que por detras duma grande marca nem sempre tem a mao, de alguem com conhecimento em activo. 
    Tao de Parabens pela materia

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