Polémica da identidade do Porto, Berlim ou Praga

A polémica “estourou” pela internet e como de costume por trás dos computadores todos somos justiceiros e campeões da honestidade apontando com leviandade o dedo a inocentes da mesma forma que apontamos o dedo aos culpados. Como temos bastantes anos de experiência neste campo do design gráfico queremos apresentar uma perspectiva mais contida e realista do que poderá ter-se passado. Não queremos assumir uma posição de detentores da verdade, só queremos falar do que poderá ter-se passado num cenário no qual não existiu cópia mas sim uma coincidência.

A nova identidade gráfica do Porto galardoada com vários prémios de design foi alegadamente copiada por um estúdio alemão denomidado de 3BKE para um evento que visa promover o bairro de Friedrichshain-Kreuzberg  de Berlim. Os portugueses indignaram-se em massa e estão a tecer todo o tipo de comentários pouco abonatórios dos designers alemães que entretanto retiraram o seu trabalho da web, encerrando a página do Facebook onde mostravam a sua identidade gráfica que de facto é extremamente semelhante à do Porto como podem ver na imagem em baixo. Como soa toda a gente: ” até o ponto tem!”

fair berlin

O que maior parte das pessoas não sabe é que há alguns meses tinha sido o White Studio a ser “acusado” de copiar uma identidade gráfica de uma escola de design de Praga que data de 2012, imagem em baixo:

prague-id

Nós quando apareceu a imagem do Porto até referimos no nosso artigo a semelhança nas abordagens entre o White Studio e um dos outros estúdios que participaram no concurso o Atelier Martiño e Jana que também apostava num inúmero universo de ícones que mudavam e caracterizavam a cidade na sua múltipla condição.

A questão da cópia não é nova, sempre existiu e está bem presente numa frase conhecida de Picasso que diz que os “bons artistas copiam, grandes artistas roubam.” A inspiração nos outros sempre foi um método de evolução artística e desde que o homem começou a pintar as silhuetas das próprias mãos nas paredes das cavernas que o vizinho fez o mesmo. O artista seguinte imita o anterior e vai desenvolvendo o que o anterior tinha feito e assim a arte foi evoluindo feita de inspirações e revoluções.

Durante a nossa actividade já deparamos com algumas “cópias” do nosso trabalho e já “copiamos” inadvertidamente outros. Estão neste momento milhares de designers a ter ideias e a concretiza-las nos seus computadores, cadernos de desenho ou toalhas de mesa, como é óbvio alguns deles estão a desenhar exactamente a mesma coisa.

Não acreditamos nem que o “Porto” tenha copiado “Praga” nem que “Berlim” tenha copiado o “Porto”, o que se passou a nosso ver foi uma coincidência de fontes de inspiração. No design gráfico tal como nos outros campos do design existem tendências e o gosto dos designers vai sendo “moldado” por essas premissas, num ano é bom utilizar transparências e efeitos 3d no outro já temos que recorrer á bidimensionalidade e cores planas (basta vermos a linguagem Metro que hoje em dia tem um reinado forte no mundo do design gráfico e no qual estas imagens se inserem).

Se pensarmos como um processo de criação de uma identidade se desenrola, a complexidade que tem conseguimos vislumbrar que o estúdio berlinense não iria arriscar ao copiar a identidade portuense sobe a pena de ter o cliente insatisfeito e o seu bom nome na “lama”. Quanto à questão de retirarem o trabalho de cena como é óbvio mesmo que não tenham copiado não é bom para o evento este tipo de polémica, nem toda a publicidade é boa publicidade para contrariar  Brendan Behan.

Já nos aconteceu um caso parecido e por isso podemos falar na primeira pessoa, um cliente satisfeito e com um trabalho de qualidade (porque nem todos os clientes permitem um resultado de qualidade) passados alguns meses contacta-nos irado porque tinha visto em Londres um logótipo igual ao seu. A reacção dele foi pensar que tínhamos copiado o londrino e exigiu o dinheiro de volta ameaçando-nos processar se assim não acontecesse. Tentamos explicar da melhor maneira que este tipo de coincidências acontece e que com tantos logótipos a serem criados todos os dias é óbvio que tem que haver trabalhos semelhantes. Como não queremos ter logótipos no portefólio similares ao de outras empresas mesmo sendo noutro país propusemos ao cliente redesenhar a sua marca sem custos e optando por um design mais complexo e difícil de coincidir com alguma coisa já desenhada.

No mundo do design, quer seja gráfico, de produto, de moda, de arquitectura etc a probabilidade de estarmos a copiar inadvertidamente alguém é muito grande e temos que distinguir os que roubam dos que coincidem.

Por exemplo:

ryan-harpa

Harpa dourada Transportes vs Ryan Air

bk

Barbosa Kebab vs Burger King ( versão BK )

 

Outra coisa que temos que ter em mente é que a escala das marcas conta nestes casos. Isto é se um evento em Berlim usa uma imagem (copiada ou não) semelhante à do Porto existe um conflito de marcas porque ambos têm visibilidade num mundo cada vez mais globalizado. Mas o logótipo de uma lojinha de rua  no Porto pode perfeitamente conviver com um logo semelhante de uma lojinha de rua de Berlim. No caso da Harpa Dourada e do Barbosa Kebab o uso flagrante de logótipos que toda gente conhece é um erro crasso visto que não tenta sequer disfarçar a apropriação indevida do trabalho/marca dos outros mas apenas personaliza a marca de acordo com a empresa do “ladrão”.

Concluindo, a proliferação de designers e a crescente procura dos seus serviços junto com as tendências ditadas por “iluminados” do design faz com que a coincidência de identidade gráficas seja cada vez mais uma realidade que temos que distinguir da apropriação ilegal de marcas.

 

 

 

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2 comentários em “Polémica da identidade do Porto, Berlim ou Praga

  1. Parabéns pelo texto, também acho que a questão da cópia tem muito que se lhe diga, pois o estilo do trabalho do Porto, é um estilo que muitos praticam. está sem dúvida um excelente trabalho e por isso também os prémios que receberam. Mas acho que este trabalho feito pelo estúdio de Berlim não seja uma cópia, acho sim que das duas uma ou houve falta de pesquisa ou se realmente já conheciam o trabalho do Porto e quiseram trabalhar nesse estilo deveriam ter alterado alguns detalhes nomeadamente a cor, se a cor fosse outra já não existia um choque tão grande de identidades. A questão do ponto é regular, complementa sempre o grafismo da peça em questão.
    Agora não acho que seja uma cópia se não todos os projectos que são baseados no estilo suiço e no sistema de grelhas seriam todos copiados do grande Josef Müller-Brockmann.
    Um grande abraço

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