Nova identidade gráfica de Aveiro

Uma cidade que tem um porto!

Recentemente surgiu a nova imagem gráfica da Câmara Municipal de Aveiro e com ela uma grande surpresa!

O design esteve ao cargo da conceituada agência Providência Design, também autora da identidade da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Ílhavo, Guimarães, Coimbra, Paredes (entretanto substituído), Penedono (entretanto substituído), entre outros. A solução gráfica aparece-nos como bastante similar à marca do Porto pelo White Studio. Escrevemos dois artigos sobre esse trabalho, na altura que apareceu, aqui e aqui.

O logótipo aparece, tal como no do Porto, com o nome da cidade dentro de um rectângulo. Por baixo, um rectângulo igual com as palavras Câmara Municipal. À semelhança do Porto, a cidade ganha na sua identidade gráfica um conjunto de ícones inseridos em quadrados. Estes ícones, como no Porto, representam as várias valências da cidade, neste caso, as Salinas, os Moliceiros, a Buga, etc.

Outro problema que esta identidade gráfica tem, concretamente no logótipo, é que optaram por suprimir a coluna do “R” tornando a palavra AVEIRO susceptível de parecer AVERO. Para os portugueses isto não será um problema grave, mas visto que a cidade está repleta de turistas parece-nos uma opção errada.

A semelhança com a identidade do Porto faz-nos pensar que a proposta da White Studio fez uma verdadeira “escola” no nosso país. Muitos municípios estão a recorrer a esta estratégia para representar as suas cidades. Já conhecíamos o caso de Boticas, de Tomar, e de outras embora não no mesmo estilo, como Valongo.

A estratégia de “iconizar” o que uma cidade tem de especial é muito boa e é muito interessante e representativa. Esta estratégia já existe há décadas e talvez o primeiro a ter pensado na mesma tenha sido o Otl Aicher (o designer dos pictogramas olímpicos mais famosos de sempre). Ele desenvolveu para a cidade de Isny im Allgäu, nos anos 70, uma imagem gráfica simples com inúmeros ícones que retratam inúmeros aspectos da cidade alpina num estilo muito minimalista, monocromático a preto.

A própria agência Providência Design já tinha soluções do tipo, como por exemplo em São João da Madeira cujo logo se desdobrava em ícones utilizando a mesma linguagem do logo da câmara. Tinha também um logo da Câmara Municipal de Penedono que já preconizava esta tendência de design muito despojada e inserida em quadrângulos. De certa maneira já tinham trabalhado identidades com o mesmo espírito. O problema de Aveiro é que é extremamente parecido com o trabalho para o Porto.

O sucesso desta receita faz-nos questionar se o “plágio” está justificado quando um designer tem a noção que a solução é vantajosa para uma cidade. Ou seja, será que a eficácia é mais importante do que a originalidade? Se o Porto teve tanto sucesso com a identidade gráfica porque é que Aveiro não poderia recorrer à mesma técnica? Respondendo a isto, talvez porque resulta numa uniformização, uma solução estandardizada para tratar identidades de cidades. Se várias cidades utilizam o mesmo design a identidade inicial, a do Porto, perde força e personalidade. Já a solução do Porto tinha sido acusada de plágio devido à semelhança com a identidade de uma escola de artes de Praga, podem ler aqui um artigo sobre a polémica.

Conjunto de ícones “one line” relativos ao Canadá

Também devemos distinguir a estratégia em si (que é usar ícones representativos da cidade) do próprio estilo gráfico dos ícones feitos apenas com linhas, não recorrendo a manchas. Ora, entre Porto e Aveiro podemos notar que a receita é tão forte e aceite que nem o estilo gráfico se distingue. Boticas e Tomar também utilizam ícones minimalistas baseados apenas em linhas.

Poder-se-ia, para obter alguma originalidade e distinção, adoptar a estratégia dos ícones mas variar o estilo gráfico. Como fez a Câmara Municipal de Beja por exemplo. A uniformidade deve-se, na nossa opinião, a uma moda que já vinha a ganhar visibilidade deste tipo de grafismo. Como podemos ver em baixo, o próprio White Studio já aplicou a receita noutros trabalhos, neste caso num rótulo de uma garrafa de água.

Foto de Óscar Almeida

 

 

Esta reflexão faz-nos questionar acerca da criatividade, que é apanágio do design gráfico. Se ao encontrarmos um bom exemplo, com provas que funciona, deveremos ser capazes de superá-lo e arranjar soluções igualmente válidas ou até melhores. As modas não nos devem levar à uniformização das soluções, há que procurar progredir.

É bastante estranho um estúdio com grande qualidade como o Providência Design deixar a originalidade de parte para aceitar uma solução já aplicada e testada.

Estará o design gráfico para câmaras municipais a ser uniformizado? Será que os presidentes estão tão encantados com o que se passou no Porto que pedem especificamente uma coisa do mesmo tipo?

Resta-nos esperar que a criatividade e originalidade, característica fundamental no design, não estejam comprometidas e que esta tendência seja superada.

 

Nota: Sugestões de correcção nos comentários por favor.

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